A fuga

Todo ano era a mesma coisa, os mesmos tormentos, vez ou outra, uma coisa boa acontecia, mas, no geral, aparentava conformado com o seu estado de solidão e desalento.
Os dias mais lentos de final de ano acabavam sendo uma desculpa para fugir da realidade, horas vendo televisão, ouvindo música, pensando em uma companhia feminina.
E, foi em uma desses dias, que resolveu imaginar que tinha alguém ali por perto, alguém que não teria vergonha de estar, de querer e de viver sem nenhuma ambição. A companhia deveria se adequar à realidade de um desajustado social, disso a consciência não deixava esquecer.
A estética do corpo  não precisava de perfeição, embora desejada, a preocupação estava toda voltada à personalidade, ao estilo, ao ser. A estética estava acertada, européia: rosto com bochechas fartas, rosadas, cabelos castanhos, olhos vivos e inocentes, uma voz calma e serena.
Uma personalidade feminina centrada, apaixonada, e, principalmente, compassiva. A compaixão e a pena deveriam ser as características, embora fosse imaginação, a fuga deveria ser real.




Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha.

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