Tinha passado a manhã inteira sem falar com a filha, tinha acordado tarde. Naquele dia, saiu apressada para ir ao banco, precisava resolver uma pendência financeira, tinha estourado o cartão com uma cozinha nova. Na fila do banco, encontrou uma amiga da época de infância, percebeu que não estava bem vestida para o encontro surpresa, mas não conseguiu evitar a conversa.
— Marlene, quanto tempo!
— Silvia! Você não mudou nada!
— Mulher, tive que comparecer no banco, o gerente me ligou, precisava conversar comigo sobre algumas coisas.
— Chique!
— Nada, mulher, você sabe! Sempre fui muito simples. Lá em casa, eu, Genilson e minha filha, todos somos muito simples.
— E você tem filha?
— Oxente, minha filha já tem 23 anos, já é formada em direito, e já está fazendo medicina.
— Nossa, meu filho é engenheiro. Menino inteligente, só vendo!
Ao ouvir a amiga, tentou disfarçar o desconforto, achava que a amiga não tinha filho formado, não parecia, já que, na infância, era tão "pobrinha". Voltou-se para o guarda que organizava a fila, e solicitou a entrada, mencionou que conhecia o gerente. Citou nome, e o guarda concedeu entrada, parecia que conhecia mesmo o gerente. Entrou sem olhar para trás.